segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Novo Talento 2010

Com a semana de trabalho que tive a seguir ao Congresso e com o meu miúdo doente em casa, faltou-me tempo para pôr aqui as ideias em ordem relativamente à minha participação no concurso Novo Talento 2010. Mas penso que se calhar até foi bom para tentar digerir um pouco a experiência da participação neste evento.

Antes de avançar mais, aqui fica a minha árvore depois de ser trabalhada.


Penso que, das 4 árvores apresentadas, a minha foi aquela que ficou com um trabalho menos refinado ao nível da estruturação dos patamares, ficando com um aspecto menos "acabado". Sinceramente, olhando para o trabalho final, chego à conclusão de que não gostei do resultado. Fui um pouco levado pelo movimento do jin e tentei colocar a massa verde do lado esquerdo para acompanhar este movimento, mas penso que a colocação da massa verde neste sentido desequilibra a planta e o próprio movimento do ten-jin, que aponta para baixo afunda a planta e intensifica essa sensação de pouca estabilidade.

Mas penso que, no geral, a minha participação foi bastante positiva e ajudou-me a pensar sobre diversas questões relativas ao meu percurso no bonsai. Em primeiro lugar, estar ali exposto, a trabalhar em frente a uma série de malta com noção da sua observação e avaliação crítica não é nada fácil. Uma pessoa tem de se conseguir abstrair e apresentar grande segurança no que está a fazer para poder desenvolver um trabalho convincente, o que nem sempre se consegue. Depois, pegar numa árvore desconhecida, com a qual contactamos pela primeira vez e  desenvolver um desenho praticamente acabado em apenas 3 horas é uma tarefa muito difícil, e eu pessoalmente não estou habituado a trabalhar assim, pois normalmente trabalho por etapas começando pela estrutura inicial e apenas depois avançando para a definição da ramificação e copa noutras intervenções. Daí que a minha planta tenha este aspecto menos acabado do que as outras. Em terceiro lugar, trabalhar com shohin é muito mais complicado do que com uma planta maior pois os pormenores têm de estar mais bem conseguidos ou então o desenho não funciona. Por último, o material a trabalhar já não era "virgem", ou seja, foi criado para ser desenvolvido num determinado estilo (moyogi) e descobrir o modo como sair daquele desenho de um modo convincente não era tarefa fácil.

É pouco tempo para tantas decisões e considerando a minha pouca experiência com juníperos (apenas tenho 4 e com níveis diferentes de formação, não sendo das minhas árvores predilectas), não se afigurava como uma tarefa fácil. Mas fiz o melhor que pude na altura. Depois, levei a planta comigo e ao chegar a casa mudei a frente e reestilizei de um modo que me agradou mais, usando a traseira que, embora tendo uma raiz a cruzar a frente (perfeitamente removível nos próximos transplantes), apresenta um movimento de saída do tachiagari muito mais interessante. Vai ser uma planta para ir formando aos poucos, como costumo fazer. Mas se quiser voltar a participar nestes concursos novamente, terei de treinar a minha capacidade de trabalhar um junípero até ficar com um aspecto mais acabado ao nível da massa verde logo na primeira intervenção.

2 comentários:

João Pires disse...

Olá Nuno,

Uma semana depois, a coisa consegue-se olhar com outros olhos ;) Gostei de ler as tuas palavras. Mas também de um escritor talentoso, o que é que se pode esperar? ;)

Abr.
João Pires

Unknown disse...

Viva, João!
Também já estiveste deste lado, não é?
Parabéns pelas demonstrações. Não consegui estar presente (por razões óbvias ;)) mas gostei bastante do resultado final.
Abraço,
Nuno